The Seed Carriers (FIMFA Lx10, Museu da Marioneta, 2010) |
As marionetas são muito arriscadas para o performer. As suas cabeças oscilam sem sentido; os seus fios emaranham-se; os seus membros falham, ficam presos e, de repente, soltam-se, com as consequentes ondas de choque de oscilação indesejadas. A amplitude do movimento construído nos seus pequenos corpos rígidos é muitas vezes inadequado para os seus eventuais papéis. E para piorar as coisas, ficam terríveis quando são filmadas. Então, porque é que um artista quer apresentar estas coisas horríveis em frente ao público?
Actualmente é bastante raro encenar peças com marionetas de fios. É mais fácil encontrarmos marionetas de fios apresentadas por solistas vestidos de preto na rua ou num cabaré. Os números curtos que apresentam são normalmente realizados com músicos cómicos e caricaturas de artistas de circo. Mas, embora muitas vezes pareça algo muito hábil e divertido, esta é apenas uma parte do que as marionetas de fios podem fazer.
Actualmente é bastante raro encenar peças com marionetas de fios. É mais fácil encontrarmos marionetas de fios apresentadas por solistas vestidos de preto na rua ou num cabaré. Os números curtos que apresentam são normalmente realizados com músicos cómicos e caricaturas de artistas de circo. Mas, embora muitas vezes pareça algo muito hábil e divertido, esta é apenas uma parte do que as marionetas de fios podem fazer.
As marionetas de fios têm independência espacial real, o que adiciona escultura aos espectáculos. São muito boas a representarem o “não indivíduo” - a humanidade em geral. São muito líricas e combinam muito bem com a música. Podem ser várias versões da mesma personagem, com diferentes controles e posições de fios, especializados para diferentes tipos de actividade. (O público vai lembrar-se de uma marioneta a caminhar, a andar de bicicleta, e depois a rastejar no chão antes de saltar para o ar e voar). E as personagens marionetas não precisam de ser caricaturas de actores humanos. Animais e pessoas híbridas com movimentos fascinantes são também um forte recurso de uma marioneta de fios.
Adoro a forma de como as marionetas caminham no palco e fazem uma pose nos teatros de marionetas tradicionais, enquanto os seus controles são pendurados em "forca", escondidos do público, por trás da cortina do proscénio. Ficam orgulhosamente no centro do palco, enquanto outras figuras se juntam a elas e são também penduradas. O grupo que daqui resulta pode, em seguida, ter um tipo particular de fios presos em conjunto e ser manipulado por um único intérprete. Esta técnica permite que dois ou três marionetistas possam manipular um grande elenco de personagens ao mesmo tempo - algo muito difícil de fazer com outros tipos de figuras.
Nos últimos anos encontrei uma teatralidade surpreendente em grupos de marionetas que se moviam juntas - coreografadas quase como bailarinos e apresentadas quase como uma dança. Quando a sua manipulação lhes dá a credibilidade de um verdadeiro animal, as marionetas de fios deixam de ser caricaturas e tornam-se poderosamente emotivas. É claro que é necessário um número elevado de artistas para manipular um conjunto de marionetas de fios, e é necessário muita prática para lhes dar movimentos credíveis, por isso, as minhas experiências têm sido quase sempre realizadas durante os workshops de movimento, onde muitas mãos ansiosas estiveram disponíveis para manipularem os fios. Mas nestas sessões tenho tido vislumbres de um teatro de marionetas de fios, que está em movimento, digno e verdadeiramente dramático. Assim, as marionetas de fios podem fazer teatro físico sério para públicos eclécticos.
É muito tentador saber que algo verdadeiramente mágico está ali à espera de ser feito. O potencial da marioneta de fios é claramente muito grande, uma vez que podemos negociar a nossa trajectória através das oscilações e falhas, e dar às nossas marionetas uma linguagem clara e legível do movimento.
BIO
Stephen Mottram (UK): Marionetista, encenador e construtor de marionetas.
Participou no FIMFA com In Suspension (Teatro Taborda, 2003), Organillo (Teatro da Trindade, Teatro Viriato, 2005), The Seed Carriers (Museu da Marioneta, 2010). Dirigiu o workshop Manipulação Consciente (Teatro Taborda, 2003).