Agnès Limbos: O Teatro de Objectos


Conversation avec un Jeunne Homme (FIMFA Lx13, São Luiz Teatro Municipal)

Quando eu era criança, a minha mãe comprava grandes embalagens de detergente em pó, no fundo das quais se encontrava um presente: "O presente Bonux". Mergulhava a minha mão no pó branco e descobria objectos em miniatura (cadeirões, mesas, cadeiras...). Na minha pequena mesa manipulava estas reproduções em miniatura de um cenário familiar, brincava, meditava, contemplava: via o mundo a partir de cima!

Voltei a encontrar estas sensações da infância muito mais tarde. Após uma pesquisa pessoal, foi de uma forma natural que os objectos voltaram a ocupar um papel cada vez mais importante no meu trabalho criativo. Não consigo imaginar-me a escrever sem que o objecto faça parte da história.

Quando dizemos "objecto", falamos de objectos que fizeram ou fazem parte da nossa vida quotidiana, com todos os valores nostálgicos, imaginativos ou poéticos que contêm. Este conceito pode ser alargado para materiais naturais e outros (areia, terra, árvores...). Eles não são construídos para o teatro.

É o que me interessa no objecto, o seu valor metafórico, o seu poder evocativo, sugestivo, a sua força poética. O impacto visual é imediato. São os "elementos", reconhecíveis por todos, que saem da vida sem qualquer transformação, e que chegam por acaso ao palco, através de encontros aleatórios.

O que me interessa pessoalmente, é a relação entre o actor-manipulador (aquele que tem um olhar, um ponto de vista) e o objecto em acção (mais do que manipulado). Ao longo dos anos e de várias criações, o espaço explodiu. Da mesa que servia de palco, de quem manipulava por trás, o corpo foi lançado no espaço e isso levou a novas valsas, novos movimentos, a um envolvimento total do corpo, levando consigo todos os objectos, sem perder a relação íntima com o público.

Belos reencontros têm acontecido ao longo de 30 anos, de festivais em festivais. Os artistas e os organizadores tornaram-se amigos e estabeleceu-se uma fidelidade ao longo dos anos, com momentos de partilha e bom vinho.

O teatro de objectos: um teatro de autor, singular, enraizado no nosso mundo e que ainda tem um futuro brilhante pela frente.

Podemos falar de um movimento contemporâneo que irrompeu há 30 anos, mas nós não inventámos nada. Penso que esta forma de teatro que mistura o actor e o objecto sempre existiu, e que o homem pré-histórico quando enchia o corpo de cinza e manipulava um osso para fazer rir os seus companheiros, já ia muito para além do lúdico.


BIO
Agnès Limbos (BE): Autora, encenadora e intérprete. Directora artística da Cie Gare Centrale.
Participou no FIMFA com Ô! (Teatro da Trindade, 2008), Troubles: ô!..., iii!..., ah! (Museu da Marioneta, 2010), Conversation avec un Jeunne Homme (São Luiz Teatro Municipal, 2013). Dirigiu com Nicole Mossoux o workshop O corpo face ao Objecto (Culturgest, 2013).